Homens e mulheres que apresentam Transtorno de Personalidade Narcisista fazem as pessoas da família de vítimas e são incapazes sentir amor pelos próprios filhos
Desde a Idade Média, os camponeses usavam o que conhecemos hoje como Contos de Fadas para entreterem-se durante as longas jornadas de trabalho. As histórias, de tradição oral, foram registradas e popularizadas pelos Irmãos Grimm, linguistas nascidos no território da atual Alemanha que mudaram alguns aspectos dos contos, transformando detalhes macabros em lições de moral para crianças.
Uma das características mais comuns dos Contos de Fadas é a ausência da mãe da personagem principal e a presença de uma figura materna perversa, muitas vezes transfigurada em madrasta. Rapunzel, Branca de Neve, Bela Adormecida, Bela, Pequena Sereia, Cinderela, João e Maria, todos esses personagens sofrem, de alguma forma, a crueldade e inveja da figura de uma mulher mais velha, que deveria desempenhar o papel de mãe.
A partir destas histórias, é fácil perceber como o papel materno é idealizado: quem comete as maldades contra os personagens não são suas mães, são outras figuras que deveriam cumprir este papel. Tais narrativas ajudam a corroborar com a ideia universal de que o amor das mães é incondicional, puro e inquestionável, mas a realidade está longe de corresponder a esta ideia.
Mães e pais cruéis: vilania da vida real
“Espelho, espelho meu: existe no mundo mulher mais linda do que eu?”. A frase, conhecida por ser proferida inúmeras vezes pela madrasta da Branca de Neve, a Rainha Má (que manda um caçador matar e arrancar o coração da enteada depois de descobrir que a menina competia com ela pelo lugar de mais bela do reino) caracteriza bem o que são figuras maternas ou paternas narcisistas.
Os casos de mães com Transtorno de Personalidade Narcisista são mais numerosos do que pais com o mesmo traço de personalidade, mas isso não tem nada a ver com alguma tendência da mulher ter mais propensão a ser narcisista do que o homem. Na verdade, em relação à população no geral, os homens têm maior tendência a sofrerem do Transtorno de Personalidade Narcisista.
No entanto, dois aspectos da nossa sociedade contribuem para que os relatos de mães narcisistas sejam mais comuns do que as histórias sobre os pais narcisistas: a maternidade compulsória, na qual presume-se que as mulheres precisam ter filhos sem levar em conta seus desejos reais, e o abandono paterno, muito maior do que o número de mães que abandonam seus filhos.
Pessoas que desenvolvem o narcisismo materno ou paterno patológicos geralmente já conviviam com esse transtorno antes de se tornarem pais e fogem completamente do estereótipo que construímos em relação à família nuclear: são incapazes de amar ou sentir qualquer empatia pelos seus filhos e, assim como os demais narcisistas, os usam como forma de atingir seus objetivos, com o agravante de que muitas vezes enxergam os filhos como posse.
A crueldade materna ou paterna geralmente está relacionada à manipulação por meio dos sentimentos que os filhos desenvolvem pelos pais e a geração de culpa nas crianças, que interpretam como se as maldades feitas contra elas fossem culpa delas, não do transtorno de personalidade dos próprios pais. A necessidade inerente da criança de buscar o amor, a aprovação e a validação dos pais causam muito sofrimento neste caso, já que tal amor ou validação jamais virão.
O Filho Dourado e o Bode Expiatório
É comum entre pais e mães narcisistas que têm mais de um filho fazer uma clara distinção entre as crianças e mostrar preferência por uma delas. A criança preferida é eleita, então, o Filho Dourado, enquanto as demais são os Bodes Expiatórios para todas as maldades maternas e paternas. Mas eleger o Filho Dourado é mais do que apenas mostrar predileção: é deixar claro para todos na família que, entre as crianças da casa, o Filho Dourado é mais amado, mais protegido, mais bonito, mais inteligente e digno de mais amor e atenção.
Já os outros filhos, chamados de Bodes Expiatórios, são tratados com desprezo, são ignorados e muitas vezes ridicularizados, sempre em comparação com o mais querido. Os filhos desprezados se sentem humilhados a grande maioria do tempo, apresentam problemas de comportamento e geralmente fazem de tudo para agradar os pais e receber algum amor em troca – amor que nunca vem.
Geralmente, são as crianças cujos aniversários são menos celebrados, que recebem menos presentes em datas comemorativas, que não são elogiadas – ainda que sejam excelentes estudantes ou se comportem bem, que arcam com as tarefas domésticas e que ficam com as maiores responsabilidades da casa.
É comum que, quando os filhos são um menino e uma menina, o garoto seja eleito Filho Dourado e a menina seja o Bode Expiatório. Para a criança desprezada, as consequências são inúmeras, principalmente relacionadas à baixa auto-estima: insegurança extrema, falta de confiança em si e nos outros, desenvolvimento de doenças como depressão, transtornos alimentares e ansiedade crônica, dependência emocional, vivência de relacionamentos abusivos, autopunição e cobrança exacerbada.
Mas engana-se quem acha que o Filho Dourado também não sofre consequências por ter sido eleito como o preferido: geralmente torna-se um adulto que não conhece limites, que se frustra muito mais e tem muito mais problemas para lidar com situações adversas, além de ter dificuldade de manter relacionamentos saudáveis, o que também pode causar depressão, ansiedade, eterna dependência emocional e financeira dos pais e muitos problemas com figuras de autoridades (chefes, professores, entre outros).
No jogo de manipulação criado por pais narcisistas, as crianças podem assumir papéis distintos, dependendo de como isso pode ser conveniente para os pais. Dessa forma, o Filho Dourado de hoje pode ser o Bode Expiatório da semana que vem, o que acaba causando ainda mais confusão e sentimento de culpa nas crianças, que entendem que fizeram algo de errado e por isso deixaram de ser amadas.
É importante lembrar que, por mais que isso doa e possa causar estranhamento, a realidade é que pais e mães narcisistas não são capazes de amar ou desenvolver qualquer sentimento de carinho genuíno por seus filhos, nem por ninguém. Filhos de pais e mães narcisistas precisam de ajuda psicológica para entenderem e elaborarem as situações vividas ao lado de seus pais e superar alguns dos traumas que essas relações lhe causaram.
Quando crianças, eles precisam contar com a ajuda de outros adultos que possam acolhê-los de forma segura e oferecer a atenção, carinho e cuidado necessários. Quando adultos, o ideal é o afastamento, total ou parcial, do pai ou da mãe que apresenta Transtorno de Personalidade Narcisista, para evitar que os traumas sejam reativados e que isso impeça as vítimas de terem uma vida mais saudável emocionalmente.
O ideal seria que a crueldade materna ou paterna também fosse tratada por profissionais da saúde, como psicólogos e psiquiatras, mas normalmente são pessoas que têm dificuldade para aceitar ajuda e seguir um tratamento que possa trazer melhorias em suas relações.
O inimigo mora em casa: como identificar pais ou mães narcisistas
Pessoas que sofrem do Transtorno de Personalidade Narcisista têm características bem específicas. Para aquelas que são pais ou mães, algumas delas são ainda mais marcantes, mas é necessário que haja uma avaliação psicológica da vítima para entender se, de fato, ela estava lidando com cuidadores narcisistas. Na dúvida, procure um profissional qualificado. Algumas características comuns dos pais e mães narcisistas são:
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