A psicologia investiga quais desvios caracterizam pessoas que sofrem do Transtorno de Personalidade Narcisista e como eles se apresentam

Nasce o bebê mais belo da Grécia, chamado de Narciso. Sua mãe pergunta a um sábio se Narciso viverá por muito tempo e o sábio responde que sim, com a condição de que ele nunca veja sua imagem. Anos depois, uma ninfa apaixonada, e rejeitada, por Narciso, procura a deusa da vingança, Nêmesis. A pedido da ninfa, a deusa lança em Narciso a maldição de se apaixonar por alguém que nunca poderá ter. Ao vagar pela floresta, Narciso encontra um lago para matar a sede e, ao encarar seu reflexo na água, apaixona-se por si mesmo e morre afogado tentando abraçar a própria imagem.

            O mito de Narciso, uma das histórias gregas mais conhecidas, foi inspiração para Sigmund Freud (1956-1939), pai da psicanálise, dar nome ao transtorno de personalidade mais comum da sociedade contemporânea: o narcisismo. Nomeado oficialmente pelo Manual de Transtornos Mentais (DSM-5) como Transtorno de Personalidade Narcisista, algumas pesquisas médicas recentes apontam que até 6% da população mundial apresenta tal condição, sendo mais comum em homens do que em mulheres. Mas, afinal, o que caracteriza uma pessoa narcisista?

O inferno são os outros

Conviver com um narciso, como também são chamadas as pessoas narcisistas, é mais do que um desafio; pode se tornar insuportável para as pessoas de seu convívio social, principalmente familiares e parceiros amorosos, mas também pode afetar relações profissionais e amizades. É importante lembrar os transtornos de personalidade, incluindo o narcisista, envolvem muito mais do que hábitos: são padrões de comportamentos disfuncionais, enraizados e inflexíveis que ditam como as pessoas se relacionam. 

A primeira percepção valiosa é de que o comportamento de um narcisista não é responsabilidade ou consequência do que as outras pessoas fazem, ou seja, quem é vítima do narciso não tem culpa pelo que sofre. A segunda questão importante é saber que um narcisista dificilmente admitirá que tem um transtorno e precisa procurar terapia ou ajuda para aprender a conviver com seu transtorno sem prejudicar as pessoas de sua convivência. 

Portanto, caso você conviva com um narcisista, lembre-se: você não tem culpa das atitudes tóxicas que ele ou ela pratica, mas muito provavelmente o narcisista vai insistir em colocar em você a responsabilidade pelos seus próprios comportamentos tóxicos. Então, o que fazer? Neste caso, a melhor forma de se blindar de toda a manipulação e crueldade que um narciso é capaz de cometer é conhecer suas estratégias e características para estar atento e não cair no jogo de sedução e desmerecimento que ele (ou ela) tenta envolver suas vítimas. 

Olhando direto para o espelho do narcisista

            A grande reflexão do mito grego Narciso e o espelho se relaciona com a vaidade. Essa é a primeira característica de uma pessoa narcisista. Podem ocupar cargos de muito destaque nos ambientes profissionais e ganhar muitos admiradores entre as pessoas com quem não convivem diariamente. Mas não se engane! Acompanhe a lista abaixo e conheça sete características comuns de pessoas que possuem o Transtorno de Personalidade Narcisista:

1. “Espelho, espelho meu”: narcisistas acreditam que são especiais, por isso são arrogantes e prepotentes. Se consideram superiores às outras pessoas, mais inteligentes, bonitos e grandiosos em relação a sua personalidade. Por isso, buscam pessoas que estejam a sua altura e a maioria de nós não significa muito para eles. Eles até enxergam seus defeitos, mas não admitem para ninguém, por isso precisam de constante validação e reconhecimento exterior. Quando suas relações se deterioram, buscam outro grupo de pessoas que vai admirá-los e exaltá-los novamente, por isso são pessoas muito solitárias. Geralmente são muito inteligentes e também estrategistas natos.

2. Habilidade de escuta de uma porta: narcisistas têm um mundo bem limitado, que se resume ao que eles fazem e pensam. São incapazes de desenvolver sentimentos mais profundos de amor ou empatia por outras pessoas, porque já direcionam tais sentimentos para eles mesmos, de uma forma patológica. Dessa forma, não praticam a escuta e não se solidarizam com os problemas alheios, mas exigem que as outras pessoas tenham empatia por eles e ajam para ajudá-los. 

3. Narcisos no País das Maravilhas: pessoas com Transtorno de Personalidade Narcisista não vivem a realidade como ela é, fantasiam um mundo à parte onde eles são os todo-poderosos, acima das regras, e enganam a si mesmos e às outras pessoas para chegar ao sucesso e ao reconhecimento a todo custo. Costumam mentir muito além do que é considerado normal, principalmente sobre coisas difíceis de se colocar à prova e muitas vezes tomam para si conquistas alheias. Caso fracassem ou se frustem de alguma forma, sempre colocarão a culpa no outro.

4. Frios e calculistas: narcisistas fogem a todo custo da vulnerabilidade, tanto dos outros quanto a própria. Em relação à vulnerabilidade alheia, são incapazes de sentir empatia ou se solidarizar com a dor do outro. Grande parte das vezes sentem até satisfação em ver as outras pessoas fracassando, e o contrário também é verdadeiro – invejosos como são, não conseguem se alegrar com as conquistas alheias. No entanto, quando eles se sentem mal, querem que as pessoas ao redor se mobilizem pela sua dor, fazendo-se de vítimas. Ou ainda podem tentar reverter a situação, transformando a própria fraqueza em falsa fortaleza ou menosprezando os demais para se sentirem melhor.  

5. Alguns vícios, poucas virtudes e muito controle: narcisos não conseguem abrir mão do controle que exercem sobre as outras pessoas e sobre as situações a sua volta. Por isso qualquer situação que não possa ser controlada por eles lhes causa ansiedade, culpa, medo, stress ou pânico. São mestres da manipulação e muito sedutores porque precisam da certeza que as pessoas com quem se relacionam estão sob seu domínio. Quando se deparam com a inevitabilidade da falta de controle que a vida apresenta, frustram-se muito, podem ficar raivosos e até violentos. Para compensar tal sentimento, geralmente são viciados em álcool, drogas, sexo, compras ou jogo, prazeres que são capazes de manter a euforia constante – perceba, o que eles sentem não é alegria, mas sim um estado de euforia quando estão satisfeitos. 

6. Não somos nada além de marionetes: pessoas com Transtorno de Personalidade Narcisista dividem a humanidade entre quem pode ser útil a eles e quem não pode. Por isso, todas as relações que estabelecem são baseadas em interesses pessoais, seja em busca de poder, fama, dinheiro ou reconhecimento. Costumam ser puxa-sacos de pessoas que estão em um patamar maior de poder e maltratar quem eles consideram que está em um patamar abaixo, mas não desenvolvem afeto por ninguém. Seus movimentos são friamente planejados, estão sempre vigilantes e nunca desfrutam de um momento genuíno.
   Aproveitam-se dos outros de diversas formas. 

7. Entre os caçadores, não são leões. São hienas: narcisistas são predadores que sabem escolher muito bem sua caça. Não miram as pessoas que estão atentas às suas armadilhas ou estão estruturadas e bem resolvidas em seu contexto. Perseguem as pessoas que estão fragilizadas ou vulneráveis aos seus ataques, sejam eles diretos ou sutis. Narcisos estudam suas vítimas para coletar informações, traçar perfis e agir uma forma perversa. Aqueles que estão mais suscetíveis às manipulações geralmente são pessoas que sofrem de algum tipo de dependência emocional. Narcisistas costumam destruir a auto-estima de suas vítimas ao mesmo tempo em que se alimentam do sofrimento alheio e só vão largar o osso quando encontrarem alguém de quem possam tirar mais vantagens. 

Narcisistas podem deixar escombros e devastação por onde passam, por mais charmosos e sedutores que sejam. As relações que estabelecem não são verdadeiras, são baseadas em mentiras, perversidade e vaidade. Reconheceu alguém próximo a você? Caso você suspeite que esteja passando por um relacionamento tóxico com um narcisista, seja entre seus familiares, parceiro amoroso, colega de trabalho ou amigo, não deixe de procurar ajuda profissional de psicólogo.